Lisa estava na livraria, era muito desconfortante o ambiente, estava frio e meio escuro.
Passando de estante a estante, de lombada à lombada, não achou nada que lhe chamava a atenção.
Depois de algum tempo procurando, na última estante o encontra, seu nome era "Lágrimas da lua. Clássico para aprendizes de bruxaria".
Comprou e foi de encontro à saída, mas Lucas, seu amigo e empregado da livraria, a chama.
- Hey ! - a chama meio tímido, mas segue na direção dela.
- Ah... Oi, Lucas. - ela se vira e o cumprimenta.
- Hum... Queria alertar sobre esse seu livro, os idosos da cidade dizem que ele está amaldiçoado pelas antigas bruxas da nossa cidade. - Lucas tenta alertar sobre os perigos daquele livro, mas Lisa o responde mais rápido.
- A velha história, das secas e a árvore pegando fogo, de novo ? - Lisa o questiona e percebe que ele fica meio vermelho com a pergunta. - Mas obrigado mesmo assim, mas mesmo assim eu acho que isso aqui não tem maldição nenhuma. - dá tchau ao amigo e pega um taxi pra casa.
Ao chegar em casa, Lisa cumprimenta sua irmã Luiza, e vai pra sala. Após mostrar o livro para sua irmã, nenhuma das duas acreditam na história de maldição, pois o dia das bruxas está chegando e elas concluem que era mais uma pegadinha.
Já era muito tarde, passando da meia noite, as meninas decidem ir dormir. Lisa seguiu ao banheiro, para tomar seu remédio, e Luiza foi direto ao seu quarto.
- Boa noite, Luiza... - diz com uma voz sonolenta e adormece.
Na manhã seguinte, as duas vão à procura do livro para desvendá-lo, e ao encontrar percebem que ele está úmido e pegajoso.
- Que nojo disso, Lisa. - Luiza com náusea em sua fala. - Eu não vou encostar nisso, não. - ela se afasta, indo pro outro lado de Lisa.
- Para de reclamar ! Vamos abrir e ler, mesmo assim. - o abre e nota que, por dentro, ele está seco. - Olha isso, Irmã. Está seco por dentro. - a menina chega perto, curiosa.
Passando as páginas, descobrem que está na lingua matrix da cidade, uma linguagem muito rebuscada, antiga até para os colonizadores.
Lisa sai na procura de um livro de história, que tenha a história de sua cidade.
Depois de encontrar na internet, uma tabela com o alfabeto, tentam ler o texto.
"Já se passaram várias décadas, sem um enforcamento de traidores, fogueiras de bruxas ou qualquer afogamento para os hereges.
Como minhas irmãs já diziam: Mortos são enterrados, só para esconder a verdade, para ninguém ver sua impureza e as suas mentiras.
Como a sacerdotisa nos disse: uma bruxa pura e verdadeira, não é enterrada para os bichos da terra a consumirem, e sim, para virar pó e ascender até a deusa.
Quando chegamos a este campo, não havia nada, nem outros seres e nem animais, somente nós. Usamos de nossa magia para purificar e abençoar a terra, mas homens em grandes carcaças de ferro chegaram e queriam nos caçar.
Nossa sacerdotisa se sacrificou, enraizada no lado leste deste campo, ela os amaldiçoou com fogo e depois disso nada mais cresceu daquele lado. Sua morte foi com um enterro, pois ela amaldiçoou alguém, e era contra nossas regras".
Luiza sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas comenta sobre a possibilidade de maldição do livro, possa ser real.
- Lisa, com certeza tem algo nesse livro. Acordamos e fomos procurar ele, não estava onde você deixou e ainda por cima, estava úmido e pegajoso. Nossos pais estão viajando, nós não mexemos nele, isso é fisicamente impossível. - termina a argumentação meio inquieta.
- Menina, acorda ! Ele deve ter simplesmente caido, em algum caldo, enquanto nós estávamos dormindo. - desacelera a irmã.
- Tá bom, mas e o texto ? Será que está mesmo amaldiçoado, ele tem a aparência de muito velho. - aponta do livro.
- Que cara é essa ? Tu está pálida. - pergunta preocupada.
- Está meio frio aqui, só. - se senta, se cobre com um cobertor e dorme.
Lisa aproveita e assiste um filme de suspense.
"Até agora não acredito que ele explodiu a casa, pelos motivos de traição e drogas, tipo: a vida não se resolve assim, querido. Mas ele fez bem explodindo lá, porque a garota ia matar ele e roubar o dinheiro todo." pensa sarcasticamente.
Dorme alí mesmo, no sofá, seu conforto da casa.
Após acordarem e se arrumarem para ir para escola, pegam as mochilas e seus lanches. Já perto da porta, Lisa observa o tempo.
"Neblina hoje, neblina sempre." ironiza o tempo da cidade.
Saindo de casa, trancam o portão e vão para a escola, que não é tão longe para ir de carro ou ônibus para lá.
Chegando no portão da escola, são surpreendidas por dois cadeados, mas nenhum aviso.
Ao longe, ouvem gritos que parecem de crianças. Luiza tenta ligar par alguem e Lisa vai tentando achar de onde os gritos são.
- Vou ligar pro pai, vai que ele atenda. - sugere ela.
- Não. Liga pro Jonathas, ele deve saber de algo. Eu vou resolver esse problema aqui. - sai em seguida.
No campo, duas crianças seguram uma menor, e Lisa vai com fúria em seus olhos.
- Parem de segurar ele, seus pivetes. - quase berra com as crianças. - O que houve aqui, e porque estão ensanguentados ? Vocês bateram no menorzinho ? - questiona as crianças, com um olhar enfurecido.
- Moça, simplesmente o William atacou o Bruno, ele já chegou fazendo uns barulhos muito estranhos e mordeu ele. - conta um menininho loiro, com inocência no olhar.
- Eu já ouvi isso, o William deve estar brincando de mosquito, né ? Só que em vez de picar, ele mordeu o Bruno. - conta e começa a rir, uma baixinha morena.
- Laura, eu acho que ele não estava brincando disso. - o menininho loiro chama a atenção da risonha.
- Meu deus, alguns de vocês chamem seus pais, pra ajudar aqui. - recomenda e dá tchau às crianças.
Até as crianças e os pais saírem, Lisa ficou alí com eles, mas depois foi de encontro a sua irmã.
- Alguma novidade ? - olha para a cabisbaixa. - E sobre os gritos, eram crianças que se machucaram. - pega seu telefone que apita.
Era Jonathas, na linha.
- Bom dia, Lisa. Tua irmã perguntou o que está acontecendo mas desligou, daí te liguei. - ela olha pra irmã com uma cara complexa de desvendar.
- O que aconteceu com a escola, tem cadeados aqui, houve um problema aqui perto, com as crianças. - se vira e relata o ocorrido. - Um garotinho mordeu o outro, fazendo o outro sangrar, as crianças acham que ele estava brincando de mosquito. Mas um disse que ele estava fazendo barulhos estranhos. - Jonathas apenas concorda.
- wow, que loucura isso. - comenta meio assustado. - Ah, sobre a escola fechada. Deve ter sido por conta da virose. - Lisa o questiona. - Começou com alguns ratos, e acabou nos afetando de algum jeito. - a informa. - Foi noticiado agora pouco, vão para causa e sem contato com ninguém. É transmissível por toque invasivo. - alerta ele, e se despedem.
Lisa conta a sua irmã sobre a virose, e Luiza comenta que já pode ter afetado o seu estado, pois um menino já mordeu outro.
As meninas decidem entrar na escola, por hora, do que ficar alí fora com algum desconhecido infectado.
- Vamos subir por alí. - aponta para o muro e Luiza a ajuda.
Logo após subir, sua irmã se prepara para subir, elas são surpreendidas por alguém.
- Hey, Lisa. - chama a atenção da irmã. - Vou ter que sair daqui, tu fica e me espera. - sai correndo pela rua, o desconhecido não a alcança.
Ao descer do muro, Lisa já se depara com uma cabine quebrada e estilhaços de vidro no chão. Olha em sua volta e nada, direciona seus olhos para cima, e vê Katherine, sua amiga na janela do segundo andar.
Indo para a entrada, vê um cadeado e uma corrente nas grades, mas consegue afastar o portão e passar.
Primeiro foi ao banheiro, entrou e fechou a porta, foi até o espelho e se abaixou no chão. Ao pensar na irmã, ela logo começa a chorar.
"E se eu não a ver mais ? Eu fui muito burra, deveria ter puxado ela pra perto de mim, ou descer e enfrentar aquele cara." pensa, no meio de tantas lágrimas.
Ao receber uma chamada, com o barulho, ela se assusta mas atende.
- Oi, quem é... - espera alguém do outro lado da linha responder.
- Jonathas aqui, liguei pra te avisar que sua irmã passou aqui, ela disse que vai passar no mercado e depois te encontra. Mas você está ainda na escola ? - ela tenta responder, no meio das lágrimas.
- Estou sim, espero que ela consiga vir. - Jonathas pergunta se ela está chorando, mas Lisa nega.
Um silêncio consome o lugar, junto a escuridão e a solidão.
Lisa tenta dormir, mas não consegue parar de pensar em sua irmã. Um tempo depois, ela dorme.
Quando acorda, vê que seu telefone apita.
"Uma chamada perdida: Lulu Maninha, há 2 horas atrás."
Ao levantar do chão, vai até a porta, mas para pois ouviu uma conversa baixa, quase como se o vento falasse. Ela reconhece as vozes, Katherine e Max.
Subindo as escadas, as chama, mas nada acontece. Até a porta da sala 06 começar a abrir.
- Estamos aqui, entra logo, Lisa. - convoca lisa à entrar.
Lá dentro, elas se abraçam, e Max a atualiza da situação.
Lisa comenta que sua irmã não pode vir junto, mas logo irão se encontar.
Minutos em silêncio, frio e tristeza pairam no ar.
Max conta que Beatriz ainda não chegou e que está bem preocupada. Lisa não prestou muita atenção, pois Luiza eram seus pensamentos.
Max propôs de elas saírem e buscarem por Beatriz. Mas Katherine revela o resto da história.
- Quando fomos ao refeitório, fomos forçadas a ir para o ginásio, porque havia grades que iriam nos proteger. Aquelas coisas estavam atrás de nós, mas Beatriz chamou a atenção deles e me empurrou pra fora de lá e se trancou. - relata a triste história. - E a última coisa que eu ouvi ela dizer foi : "Tu curti ?". - senta e cai nas lágrimas. Max se sentou e tentou confortar a amiga.
Quando se acalmaram, cada uma foi para um lado da sala. Sem comentar ou questionar nada.
Lisa seguiu para a janela, se deitou alí, ficou a observar a rua.
"Mesmo que esteja de noite, há pessoas correndo com malas e mochilas para se salvar, é quase contraditório meu caso. Estamos em perigo constante, mas estou segura." reflete por alí e cai no sono.
Quando é acordada por Max, é avisada para cuidar da porta, enquanto as duas dormem.
No tédio de esperar a morte, que se espreita por vielas, ela recebe uma ligação e já aceita para acabar com o barulho do toque antes que acorde as meninas.
- Hum... Oi, desculpa por ligar essa hora, só queria saber como tu está. - ela olha pras meninas deitadas e enroladas em lençóis e conta sobre Beatriz. - Mas alguém sabe se ela realmente morreu ? - Lisa fica apenas ouvindo seu amigo. - Eu espero que quando der, vocês possam vir aqui... Eu queria... Mas só se vocês aceitarem... Você sabe que eu... - a ligação falha e cai.
Enquanto guardava o telefone, ela ouve uns barulhos, reconhece que é do portão e que estão aumentando. Ouve um barulho de ferro quebrado.
Anda e vai acordar as meninas, já as alertando.
- O portão cedeu ! Acho que virão aqui ! - exclama exaltada.
- Shihhhhh... Se cedeu, não berre. Eles ouvem. - aconselha Lisa.
Se levantaram e começaram a arrumar as coisas, para fugir dalí.
Saindo da sala, elas seguem caminhos diferentes, Lisa vai para biblioteca e Katherine e Max para a diretoria. Ambas se trancando lá.
Na Biblioteca, Liza faz uma barricada com os armários, e caminha até a janela para tentar acompanhar o ritmo das coisas. Se aproximando dela, toma um susto ao ver mãos subindo pela janela.
Vendo pulseira no pulso, percebe que é Luiza alí.
- Me ajuda a abrir isso, logo. Não é fácil escalar dois andares e abrir uma janela, estando pendurada. - quase grita, mas acaba usando do sarcasmo uma ferramenta.
Ao abrir, Luiza joga sua mochila primeiro, e depois entra. Agarra sua irma que está chorando e a abraça.
- Que bom, que tu está bem. Fiquei muito preocupada, senti muita falta tua. - não sai do abraço preciso de sua irmã.
- Claro que senti tua falta, recebeu meu recado ?
- Sim, Jonathas avisou, mas ia falar algo e cortou toda ligação. - comenta e vai pro lado da irmã.
- Quando cheguei, ele estava com uma arma, acho que do pai dele, bom que ele me reconheceu. - se entre olham.
- Vamos procurar as meninas, para sair daqui. - propôs Lisa.
Descendo as escadas, olham para a diretoria e a vêem destruída, mas sem sangue.
"Se não tem sangue, não houve morte aqui." pensou confusa.
Luiza recebe uma mensagem e sai para vê-la.
- Olha isso... - vaga no seu olhar.
- Tá bom. - Lisa segura o aparelho.
"Desculpa gurias, eu sei que não virão aqui, mas se eu não atender, quando/se virem, eu não vou estar mais. Engoli 5 cartelas de aspirinas e tomei o Whisky do meu pai. Amo vocês."
A tristeza se impregnou no ambiente, mesmo impactadas pela morte do amigo, continuaram.
Saíram da escola, e caminhando rua, oram para a Deusa.
"Que esteja certa, mãe... Tudo que acontece, você que permite." seguem citando o mantra.
Depois da oração, Luiza arrastou pelo braço Lisa, até o meio da rua.
- Não se preocupe, a Deusa me revelou que vamos ascender até ela. Mas primeiro, devemos ser julgadas. - as duas param o meio da rua, se olhando.
De repente, um carro as atropela, fazendo a morte ser precisa e necessitada.
Não houve choro, não houve nada.
Elas foram julgadas, e Luiza ascendeu. Mas a Deusa deu o ar para os pulmões de Lisa novamente.
Sua missão não acabaria alí, como a de sua irmã.